O deputado ainda alega ter exigido no Ministério da Saúde a inclusão de Rondônia no calendário de vacinação da dengue. Qual a importância dele na fila do pão para exigir alguma coisa em Brasília? Ele nem falou com a ministra. Será que ela ao menos sabe que Camargo existe?
Muitos dos que acompanham a trajetória política do deputado Rodrigo Camargo (Republicanos) não sabem se riem ou se choram. É bom lembrar tratar-se do mais metido a moralista na Assembleia Legislativa, que até pouco tempo esculhambava com adversários políticos e cobrava moralidade na aplicação de recursos públicos.
Agora os críticos alegam que Camargo aprontou mais uma: ele e o primo receberam juntos R$ 25.200,00 em diárias para ir a Brasília. Foram sete diárias, de R$ 1.800,00 para cada um. Camargo recebeu R$ 12.600,00, e o primo mais R$ 12.600,00. O total são os R$ 25.200,00, se a calculadora do blog não estiver errada. O Entrelinhas pede aos seus três leitores que calculem também.
A justificativa apresentado pelo deputado Camargo para viajar com o primo, recebendo diárias, é muito interessante. Dentre outras coisas ele foi participar da cerimônia de posse da Diretoria dos Tribunais de Contas do Brasil, foi cumprir agenda nos gabinetes dos deputados federais de Rondônia e ainda foi tratar com os deputados federais Gustavo Gayer e Marcos Pollon. E é claro, foi a ministérios, dentre eles a dos Povos Indígenas.
Por que razão o povo precisa pagar diárias para o deputado Camargo ir com o primo a uma posse de diretoria dos Tribunais de Contas, se o presidente da Assembleia Legislativa já estava lá representando o Parlamento? Camargo não poderia falar com os deputados federais de Rondônia em Porto Velho mesmo? Ele tinha que levar o primo para falar com deputados federais de outros estados?
O principal cobrador de moralidade da Assembleia Legislativa promove uma grande gastança, e não se vê muita coisa de útil nessas viagens todas. E ele ainda leva o primo. O primo, no caso, é o chefe de gabinete, Rogério da Silva Camargo. Ele recebe vencimentos de R$ 21.750,67 líquidos, e ainda tem algum dinheiro que deve ter sobrado das diárias.
O mais interessante é que o deputado Camargo, assim que eleito, chegou a anunciar teste seletivo para a contratação de assessores para seu gabinete. Foi considerada uma atitude moralizadora, merecedora de destaque nacional, quiçá mundial. Mas depois ele contratou o primo.
E, pasmem, nesta semana uma matéria no portal da Assembleia Legislativa dá conta de que o deputado Camargo foi até o Ministério da Saúde exigir a inclusão de Rondônia no calendário de vacinação da dengue.
Na matéria ainda é dito que Camargo cobrou do governo do estado a inclusão de Rondônia no calendário nacional de vacinação contra a dengue. A matéria está errada. Na certa queriam dizer que ele cobrou do Ministério da Saúde a inclusão. O que ele estava fazendo no ministério cobrando o governo de Rondônia? Falha na hora de passar a informação. Isso acontece.
Voltando ao ponto principal, quer dizer que o deputado Camargo “exigiu” no Ministério da Saúde um tratamento melhor para Rondônia? E quem é ele na fila do pão para ter força suficiente e exigir alguma coisa em Brasília?
É bom lembrar a importância do Estado no cenário nacional. São Paulo tem 70 deputados federais, enquanto Minas Gerais tem 53 e o Rio de Janeiro 46. Rondônia tem 8, um número muito pequeno, pois há algumas cidades paulistas com mais habitantes do que nas terras de Rondon. E ainda deve ter gente achando que Rondônia é a capital de Roraima.
Pois é… neste cenário o deputado Camargo alega que “exigiu” alguma coisa no Ministério da Saúde. Ele não foi recebido pela ministra Nisia Veronica Trindade Lima, e possivelmente a ministra nem sabe que existe em Rondônia um deputado Camargo. E ele “exigindo”…
Em Brasília, deputado federal tem dificuldade para ser recebido por ministro, por isso geralmente se aproxima de um senador para ter amplo acesso aos ministérios. Diante disso a “exigência” do deputado Camargo representa pouco mais do que nada. A exigência dele e mais R$ 10,00 são suficientes para comprar uma Coca-Cola de dois litros.
Ministro tem agenda, para ser recebido é preciso olhar a agenda. Olhem a agenda da ministra Nisia Veronica no dia 8, a última sexta-feira. Tem no final do texto o print e também o link. Escolha o mais fácil. Camargo poderia ter enviado a “exigência” de Rondônia mesmo. O resultado será o mesmo, ou seja, praticamente nada, mas teria sido economizado dinheiro público.
O homem parece ter mais vontade de ser deputado federal do que o aliado dele em Ariquemes, o ex-vereador Rafael é o Fera.
COMMENTS