A rápida expansão da faculdade é algo quase inacreditável... mas e a qualidade?
Os cursos de Medicina oferecidos pela Faculdade Integrada Aparício Carvalho (FIMCA), uma das instituições privadas com maior presença em Rondônia, figuram entre os piores avaliados no estado, de acordo com os dados mais recentes do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD) 2023, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC).
A análise dos dados revela um quadro preocupante: mesmo com a forte expansão da FIMCA em várias cidades, a qualidade da formação médica oferecida está entre as mais baixas do estado, colocando em risco a preparação adequada dos futuros profissionais de saúde.
Abaixo da média
Entre os 18 cursos de Medicina avaliados em Rondônia, a FIMCA aparece com diversas unidades e turmas. Embora uma das turmas de Porto Velho tenha obtido desempenho satisfatório, com IDD contínuo próximo de 3, as demais turmas e campi da instituição demonstraram fragilidades severas.
Os cursos da FIMCA em Jaru, Ariquemes e até mesmo outras turmas de Porto Velho tiveram notas inferiores a 2, com a mais baixa beirando 1,14, o menor valor registrado entre todas as graduações médicas no estado.
Esse resultado é alarmante, especialmente se considerado o padrão de referência: o MEC considera satisfatórios os cursos com IDD faixa 4 ou 5, o que corresponde a uma nota contínua superior a 2,95. Os cursos da FIMCA que ficaram abaixo de 2 estão, portanto, estão aquém do mínimo esperado, sugerindo que os estudantes regrediram ou quase não evoluíram academicamente durante o curso.

Possível desorganização
O mais preocupante não é apenas o desempenho isolado de uma ou outra unidade, mas a recorrente presença da FIMCA entre os piores resultados do estado, indicando um padrão institucional de baixa qualidade em diversas frentes. Essa realidade aponta para falhas sistêmicas e não meramente pontuais.
As disparidades internas entre turmas de uma mesma cidade sugerem falta de padronização nos métodos de ensino, lacunas na supervisão pedagógica, deficiências de infraestrutura ou instabilidade no corpo docente. Há indícios de que a expansão acelerada da FIMCA, com múltiplas autorizações em diferentes cidades, ocorreu sem o devido planejamento de qualidade e sustentabilidade acadêmica.
É importante lembrar que o curso de Medicina é altamente exigente em termos de carga horária prática, infraestrutura laboratorial, hospitais-escola e qualificação de professores. Quando esses elementos são negligenciados ou diluídos em processos de expansão descontrolada, o resultado é claro: formação precária e profissionais mal preparados.
Riscos à sociedade
A formação médica deficiente não é apenas uma falha educacional. É uma questão de saúde pública. O médico mal formado pode cometer erros irreparáveis, comprometer diagnósticos e tratamentos, e impactar negativamente a confiança da população no sistema de saúde.
O MEC e os conselhos profissionais precisam agir com rigor: auditorias, avaliações in loco e, se necessário, a suspensão de novas turmas ou até mesmo o descredenciamento de cursos devem ser medidas consideradas quando os dados indicam repetidamente padrões de baixo desempenho.
Da mesma forma, os estudantes e suas famílias devem ter acesso a essas informações de forma clara e transparente. Muitos ingressam nos cursos da FIMCA acreditando na promessa de ascensão social, mas acabam enfrentando formações frágeis, endividamento com mensalidades altas e baixa valorização no mercado de trabalho.
Freios na expansão
A trajetória da FIMCA no ensino superior merece uma reavaliação crítica. A expansão territorial e o número crescente de alunos não podem ser comemorados quando acompanhados por dados de desempenho alarmantes e uma formação médica aquém dos padrões éticos e técnicos esperados.
É urgente que a instituição reconheça suas deficiências, implemente mudanças estruturais e pedagógicas profundas e que os órgãos reguladores atuem com transparência, fiscalização e responsabilidade, para que a saúde pública de Rondônia e de toda a Amazônia Ocidental não pague o preço de uma formação médica comprometida.
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